sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Política em cor ou em cores?

By Irenaldo Araújo   Posted at  14:30   No comments

Conta-se que todas as pessoas viviam bem. Seguiam tradições em crenças herdadas dos antepassados. Quantos suspiros não eram dados por cada cena que se passava naquele cotidiano. Em seu local, as pessoas estavam bem acomodadas. Não havia necessidade nem de pensar, pois já tinha quem fizesse isso. A sobrevivência diária já estava pensada. E todas as pessoas viviam felizes naquela realidade cinzenta.

Conta-se também que um dia, alguém sente a necessidade de se levantar, olhar ao seu redor e ir um pouco mais além. Não é à toa que se diz que a curiosidade é a mãe das grandes descobertas! O fato dá uma vontade imensa de aquela pessoa se levantar, começar a caminhar... mesmo com dificuldades! De repente, observa-se uma luz que vem de fora e que é dela que são vistas as cenas daquela realidade. A luz é forte! Mas, é preciso que se caminhe até a luz que parece está no final daquela caverna. Aquele ser se empolga! Quando mais caminha, mas seus olhos ficam ofuscados. Chega a se esquecer dos seus! Aquela luz, como que num encanto, numa magia vai dando coragem àquele ser, que antes de tudo é racional. Finalmente, após aquela longa escalada, chega ao local de onde vinha aquela luz. Para sua surpresa não era uma luz, mas uma saída! Ele começa a compreender que, na verdade, aquela abertura era um convite a quebra das rotinas, a um encontro com novas realidades. Finalmente, ele consegue sair! Quando olhava para traz, não via mais projeções, imagens do passado! O encanto da descoberta é fascinante!

Ao chegar ao exterior daquele mundo em que vivia, começa a perceber o quanto era bela a realidade. Uma realidade colorida: belas árvores, montanhas, animais, pessoas... Pela primeira vez, sente a necessidade de olhar para si e lhe vem um desejo imenso de se conhecer, de conhecer novos mundos! E quanto mais ele descobre a nova realidade, mais empolgado fica com a realidade.

Mas, o ser humano ao fazer novas descobertas não se contenta apenas com o seu bem estar. Há um desejo imenso de ir ao encontro dos seus para que também venham conhecer a sua realidade, os novos mundos que se despontam. E ele volta! Não para ficar naquele mundo cinzento, mas para trazer os seus para este mundo em cores. Aos poucos vai descobrindo o caminho de volta. O desejo de encontrar os seus é tão forte que logo chega ao local de onde ele saiu. Os seus olhos sentem dificuldade de caminhar naquela escuridão. É iluminado pela luz que entra por aquela fresta. Aos poucos vai enxergando aquelas projeções da realidade que está lá fora. Ele sente vontade de chorar! Como o seu povo vive enganado, pensando que a realidade são aquelas projeções que vem de fora. É preciso que as pessoas façam aquele trajeto em busca da verdadeira realidade! E finalmente chega ao encontro dos seus!

A sua parentela, com certeza, começa a lhe enxergar com outros olhos! Por onde andou esse menino!? Vivia tão bem com a gente! De repente saiu! Desapareceu! Todos ficam até assustados com aquele rosto meio estranho! Estava até mais escuro! O que teria acontecido com ele? E para aumentar a surpresa ele começa a falar!

A sua fala era um tanto diferente! E ao invés de apenas falar da beleza daquelas imagens projetadas, começa a fazer um convite! Conclama as pessoas para se levantarem, olharem para traz e descobrir novas realidades! E para surpresa de todas as pessoas, que atônitas ouviam as palavras proferidas por aquela pessoa que não mais falavam como eles, ele dizia que aquelas imagens não eram a realidade e que para que eles descobrissem a verdadeira realidade era preciso que se levantassem, mesmo que para isso representasse um pouco de esforço, seguisse aquela luz que estava no fim da caverna, pois além daquele horizonte é que se encontrava a verdadeira realidade. E todos pasmam! Mas, aquele jovem empolgado diz mais ainda que aquilo que se ver são apenas projeções daquilo que está lá fora! E que do local onde eles se encontram, circundado pela escuridão jamais vão compreender a beleza em cores que existe lá fora.

As pessoas presentes querem se revoltar com aquelas palavras! Que sacrilégio! Que blasfêmia! Estavam convencidos que ele havia endoidado! Estava negando as suas verdadeiras tradições! E para que ele não continuasse a dizer tanta asneira e não contaminasse a mente das demais pessoas e para não atrapalhar as imagens que estavam sendo projetadas, resolveram encaminhar logo aquele homem para uma espécie de calabouço. Mas logo, os anciãos, os chefes, os donos do poder começaram a ver que este homem era uma ameaça, pois se ele permanecesse ali poderia acabar com tudo o que se havia construído, pois as pessoas estavam acostumadas com aquela realidade e aquilo era a melhor realidade. Todas as pessoas já não recebiam o suficiente para sobreviver, já não se alegravam com as imagens que viam do lugar em que se encontravam?! Então! O que fazer? E após um longo silêncio, todos sentenciam! É importante que este homem morra para que possamos garantir o nosso bem estar. E assim foi sentenciado! E assim foi executado! E assim foi cumprido!

Aquele homem, Amigo da Sabedoria, que conheceu outros mundos, simplesmente queria contribuir com a libertação dos seus, que viviam enganados pelos seus líderes. Aquele Amigo da Sabedoria não queria que o seu povo vivesse apenas vendo imagens projetadas da realidade, de acordo com o interesse de seus líderes, que apenas mostravam uma determinada cor como expressão da realidade... Aquele homem foi morto, acusado de querer subverter a ordem estabelecida.

A ordem estabelecida eliminou aquele homem que contestou uma política em cor, que acreditou na possibilidade de que as pessoas vissem a realidade a partir de suas cores verdadeiras, que ousou em sair daquela caverna na busca de novos mundos, que não quis ficar preso a um mundo pré-determinado... Mas não conseguiu eliminar os seus sonhos, que encorajou alguém a conta-lo, a passar a gerações futuras, que inspirou Platão a escrever o Mito da Caverna, que me inspira a acreditar na possibilidade de mudanças quando tudo parece perdido.

Acredito na possibilidade de as pessoas evoluírem de uma política em cor, onde a paixão e o elemento de base; para uma política em cores, que tenha por base critérios racionais, de análise crítica, e que esteja pautada na construção de pilares que apontem possibilidades de se construir espaços de gestão que estejam pautados no zelo pela coisa pública (res publica).

Sobre Irenaldo Araújo

Educador, graduado em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia, pelas Faculdades Integradas de Patos; Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, pela Universidade Federal de Campina Grande; Mestre em Ciências Florestais, pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais, da Universidade Federal de Campina Grande; Doutorando em Educação, pelo Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal da Paraíba (Campus I).usto.
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    Educador, graduado em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia, pelas Faculdades Integradas de Patos; Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, pela Universidade Federal de Campina Grande; Mestre em Ciências Florestais, pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais, da Universidade Federal de Campina Grande; Doutorando em Educação, pelo Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal da Paraíba (Campus I).