segunda-feira, 20 de abril de 2015

Torço, mas não vibro

By Irenaldo Araújo   Posted at  11:45   Notas No comments

Em conversa sobre o contexto das eleições, sempre tenho procurado compreender a realidade vivida em cada município. Afinal, discorrer sobre política é algo que me fascina e o que me entristece é quando vejo alguém dizer que detesta política.
O meu fascínio pela política vem de longe. Quando criança, em Taperoá, ficava atento as palavras do meu avô, Alonso Pereira Pinto, quando se mostrava inconformado com um governo construído sob a égide da ditadura militar e, ao mesmo tempo, mostrava-se um defensor dos ideais do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Lembro-me como ele acompanhava atento o processo eleitoral nos municípios de nossa região e até de nosso país, afinal não se votava para governador, nem para presidente. Lembro-me, como se fosse hoje, quando me pedia para anotar o resultado das pesquisas eleitorais realizadas, ao vivo, pelas ruas de Patos, através da Rádio Espinharas, para saber a tendência neste município para a escolha dos seus representantes.

O meu fascínio pela política é uma riqueza herdada da Teologia da Libertação. Aqui em Patos, podemos citar como referência: o Pe. Raimundo Noberto, com os seus discursos inflamados contra as injustiças sociais, o seu trabalho na então capela do Morro, na Paróquia de Catingueira, com a Pastoral Universitária e na Rádio Espinharas de Patos. Outro expoente aqui em Patos: Dom Gerardo Andrade Ponte, um profeta que se mostrava bastante sensível às pessoas empobrecidas, acolhia a todos como um pai e se mostrava furioso quando se deparava com situações de injustiça. Mais tarde, tive acesso a outros expoentes da Teologia da Libertação: Dom José Maria Pires, Dom Hélder Câmara, Leonardo Boff, dentre outros.

O meu fascínio pela política recebeu influência de alguns educadores. Homens e mulheres que tinham como meta o fortalecimento da consciência crítica dos alunos, não estavam preocupados apenas com o repasse de conteúdos. Aqui em Patos lembro o entusiasmo do Professor Osman e da Professora Terezinha, no Colégio Diocesano e no Colégio Cristo Rei. Neste mesmo período, fui tendo contatos com a obra de Paulo Freire, especialmente pela forma apaixonada como falava a seu respeito o Pe. Ivan Teófilo, salesiano que lecionava no ITER (Instituto Teológico do Recife).

O meu fascínio pela política vem a partir da luta pelo direito ao voto e pela implantação de políticas públicas que garantam o bem-estar da população. Neste sentido, compreendo a riqueza da política para além do momento das eleições. A política é como o ar que respiramos, apesar de não percebermos está presente em tudo aquilo que fazemos.

O meu fascínio pela política é que me leva a sempre estar procurando conhecer o contexto das eleições nos municípios da nossa região. Pelas questões acima expostas tenho algumas dificuldades em relação ao nosso contexto político: 1) votar ou manifestar apoio a partidos e grupos que têm suas origens na ditadura militar; 2) compreender candidatos como se fosse protegido por uma redoma – cada candidato é a ponta de um iceberg, é necessário conhecer toda a sua base de sustentação; 3) a forma como as pessoas se envolvem emocionalmente com a política, gerando uma espécie de bipartidarismo (herança maldita da ditadura militar), classificando o outro como o inimigo, ficando difícil de se manter qualquer diálogo, mas, pelo contrário, surgindo cenas de desrespeitos, com agressões de todo tipo – as pessoas alteradas emocionalmente têm dificuldade de utilizar aquilo que é comum a espécie humana (raciocínio), utilizam com mais frequência aquilo que há em comum com os demais animais, a partir do instinto de agressão e defesa; 4) em ver como as pessoas não utilizam o momento político para ouvir os candidatos, naquilo que se propõem ao bem-estar da população e ao zelo pela coisa pública – este deveria ser um momento de grandes debates, tendo como foco modelos de gestão que garantam a participação dos diversos setores da sociedade.

Perante a situação que vivemos, acredito que tem se tornado difícil militar na defesa de algumas candidaturas, tendo em vista que há uma gradual perca do idealismo político em algumas figuras que estão ao nosso redor. Neste sentido, olhando para os cenários que se constroem em alguns municípios, no estado e até no país, chego a torcer pela vitória de alguns candidatos, mas não vibro com as possíveis eleições.

Sobre Irenaldo Araújo

Educador, graduado em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia, pelas Faculdades Integradas de Patos; Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, pela Universidade Federal de Campina Grande; Mestre em Ciências Florestais, pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais, da Universidade Federal de Campina Grande; Doutorando em Educação, pelo Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal da Paraíba (Campus I).usto.
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    Educador, graduado em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia, pelas Faculdades Integradas de Patos; Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, pela Universidade Federal de Campina Grande; Mestre em Ciências Florestais, pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais, da Universidade Federal de Campina Grande; Doutorando em Educação, pelo Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal da Paraíba (Campus I).